quarta-feira, 8 de setembro de 1999

Os mistérios da ciência desvendados a brincar

O Espaço Interactivo de Ciência apresentado pela Organização de Coimbra do PCP, além de uma novidade, foi um dos grandes sucessos da Festa: instalado perto de uma das entradas do recinto, o Espaço nunca teve espaços mortos na recepção dos muitos milhares de visitantes que, em filas de espera permanentes, aguardavam alegremente a sua vez de experimentar o prodígio de brincar através experiências científicas.

Encestar uma bola usando apenas uma corrente de ar fornecida por uma mangueira, adivinhar texturas, formas e materiais tacteando num recipiente inspirado nos mistérios das cerimónias da ordália, descobrir a escala de solfejo em gigantescos tubos de ar, lançar objectos num declive que recuam em vez de descer devido ao centro de gravidade, experimentar bizarras distorções de óptica em jogos de espelhos, descobrir o princípio do periscópio manuseando exemplares feitos de simples espelhos e cartolina, deliciar-se com as bizarrias provocadas pela electricidade estática, espreitar ao microscópio reacções e formas insólitas, abordar as surpresas da química com manuseamentos simples e directos, eram apenas algumas das surpresas que esperavam (e apaixonavam) os visitantes do Espaço Interactivo da Ciência.

Embora os mais jovens, com a sua alacridade e entusiasmo inesgotável, se afirmassem activamente como os utentes soberanos deste Espaço, os mais velhos - digamos mesmo os de «todas as outras idades» - também não hesitavam em envolver-se nas brincadeiras, agora experimentando, depois olhando atentamente as explicações científicas dos fenómenos que acabavam de desencadear e, finalmente, repetindo a «dose» de brilho nos olhos.

A iniciativa trazida pela Organização Regional de Coimbra fazia bem jus às palavras de Bento de Jesus Caraça, retiradas da obra Conceitos Fundamentais de Matemática e expostas à entrada do pavilhão: «A ciência pode ser encarada sob dois aspectos diferentes. Ou se olha para ela tal como vem exposta nos livros de ensino, como coisa criada, (...). Ou se procura acompanhá-la no seu desenvolvimento progressivo, assistir à maneira como foi sendo elaborada, e o aspecto é totalmente diferente(...). A ciência encarada assim, parece-nos como um organismo vivo, impregnado de condição humana, com as suas fraquezas e subordinado às grandes necessidades do homem na sua luta pelo entendimento e pela libertação; aparece-nos, enfim, como um grande capítulo da vida humana social».

O Espaço Interactivo de Ciência apresentado na Festa do Avante! é apenas um segmento da grande exposição do Exploratório Infante D. Henrique / Centro de Ciência Viva de Coimbra, situada na cidade do Mondego, apoiada essencialmente pelo Ministério de Ciência e Tecnologia e tendo a a colaboração de diversas outras entidades locais e regionais, como a Câmara Municipal de Coimbra, a Reitoria da Universidade e outras entidades académicas de Coimbra. Este segmento trazido à Festa do Avante! é um dos módulos itinerantes que o Exploratório Infante D. Henrique utiliza para divulgar no exterior o seu excelente trabalho do ensino da ciência através da experimentação lúdica.


in «Avante!» Nº 1345 - 9.Setembro.1999

1 comentário:

Anónimo disse...

Grande Festa a desse ano (não quero desmerecer as outras, entenda-se!), mas quem se lembrar dos milhares de pessoas que fizeram fila durante horas, para puder entrar na exposição de ciência, sabe o que eu quero dizer! Quem se lembrar dos olhos e das expressões de gente de todas as idades perante algumas experiências, sabe que isso fica conosco. Haverá poucas coisas tão mágicas como a admiração perante o que não se conheçe e o entusiasmo, perante aquilo que finalmente se entendeu!

Ana