
Em Portugal, por exemplo, tem-se desvalorizado o transporte ferroviário. Mantiveram-se aqueles que são os eixos centrais e encerrou-se grande parte dos ramais regionais, que levavam o transporte ferroviário às regiões mais recônditas do País. A lógica é a do lucro e não a da satisfação de uma necessidade que é pública, independentemente da natureza da oferta do serviço.
Assim, destacou Augusto Flor, na exposição pretende-se ainda estabelecer uma relação entre ideologia e os transportes. «Não é indiferente a cada época ou a cada governo o índice de desenvolvimento dos transportes terrestres», afirmou. Rodoviário ou ferroviário, individual ou colectivo, público ou privado – todos estes vectores são claramente políticos, destacou o responsável.
O PCP, lembra Augusto Flor, tem um imenso património de propostas sobre transportes. O desenvolvimento de uma rede ampla – aproveitando as infra-estruturas instaladas – de transporte ferroviário, com ramais para todas as regiões do País é uma delas. A aposta no transporte colectivo em detrimento do individual e do público sobre o privado são outras das propostas dos comunistas, que pugnam ainda pelo carácter intermodal dos títulos de transporte. «Não faz sentido que, por vezes para andar dez quilómetros na zona de Lisboa, se tenha que comprar quatro ou cinco bilhetes», afirmou Augusto Flor.
Na literatura, particularmente no neo-realismo português, a questão social é também notória. Alice Figueira lembra que José Gomes Ferreira conta, na sua obra O graxa, que existiam lugares marcados nos eléctricos de Lisboa. «Para os miúdos da rua era à pendura.» Já Soeiro Pereira Gomes retrata, num conto, a terceira classe dos comboios, reservada aos operários.
Para Augusto Flor, o avanço técnico e científico é importante, mas não é suficiente. A questão fundamental é política: «a quem serve esse progresso?»
in Jornal Avante! N.º 1758 09.Agosto.2007
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